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"Perpétua", Roque Santeiro |
Numa mala de papelão cor de folha seca com pequenas cantoneiras latonadas e um sistema de fechamento da idade média pode, no seu interior, esconder uma estória sem fim. Seu estado de conservação foi deglutido pelo tempo que se foi, mas ainda enfeita uma loja na área nobre de uma grande capital. Juntamente com a mala há outros objetos de valor sentimental e estético indescritíveis. Se a moda pega, a traça morre de fome. Segundo fragmentos da História tudo começou no Século XIX no Rio de Janeiro quando um alforriado de nome Belchior abriu a primeira loja de comercialização de roupas e objetos pessoais usados. A loja tinha o nome do dono mas com o passar dos anos, numa contração estranha, a dita cuja passou a chamar-se Brechó. Como não havia indústria têxtil no Brasil as roupas comercializadas eram importadas de Paris e Londres e poucas peças grosseiras feitas por aqui mesmo. Temos que Bazar não é sinônimo de Brechó, uma vez que o primeiro trabalha com ponta de estoque e o segundo com roupas mais sofisticadas.
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Produção modasvivendi |
Quem frequenta um brechó não está ali pelo preço insignificante, mas sim como um garimpeiro em busca de uma gema valiosa. Busca-se uma peça única. Um diferencial entre inúmeras griffes famosas. Mais que estar na moda, a mulher que compra em brechó está preocupada em fazer moda. Entre as estilosas da vovozinha, está a técnica do garimpo, que nada mais é que revirar bancas e araras atrás de peças autênticas e nem sempre com preços chamativos, mas como já disse única. Nos brechós, com peças que cada uma tem sua estória, há uma multivariedade de estilos. Vejamos:
SOFISTICADO - blazers, paletós, conjunto de casaco e calça social em linho, seda e crepe.
CLÁSSICO - trench coats e casacos compridos de couro, lã pesada, pele e tecidos aveludados.
PERUA - transparência e renda em vestidos e blusas.
ROUPA DA VOVÓ - veludo, crochê, tricô e bordados rústicos. Aqui, imperam os agasalhos, casaquinhos, cardigans e batas.
REVIVAL ANOS 50 - boleros e saias pregueadas.
REVIVAL ANOS 60 - moda hippie das saias longas e estampas indianas.
REVIVAL ANOS 70 - estampas coloridas e psicodélicas, golas pontiagudas e pantalonas.
ACESSÍVEL - roupas de griffes conhecidas e vendidas a baixo custo.
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Mulher ao espelho |

O brechó mais famoso do Brasil, o "Minha Avó Tinha", localizado em bairro nobre de São Paulo tem entre suas clientes estrelas do show bis. As peças raras são alugadas para os figurinos de novelas ou filmes de época ou mesmo para glamourosas festas onde as estrelas tem brilhos diferentes. Em Belo Horizonte visitamos o brechó "Cansei de Ser Madame" e adquirimos algumas peças que realçam o visual, podendo ser conferida nesta página. Brechó não é museu, não é bazar mas sim um verdadeiro antiquário da moda. É o retorno do passado, abraçado ao moderno, numa breve e sonora sinfonia.
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