Por certo você já tenha ouvido falar do poema Receita de Mulher, de Vinicius de Moraes, ou alguém citar os dois primeiros versos:"As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental". Hoje na era do politicamente correto, o célebre poeta seria criticado como nunca. Não é para menos. Em se tratando de dotes físicos, qualquer julgamento se torna preconceituoso, principalmente para um critério de seleção que não seja de concurso de miss, de modelos ou algo equivalente.
O problema é que podem até não dizer nada na entrevista de emprego ou estabelecer um ponto no regulamento fazendo menção explícita, mas na prática, a aparência tem um peso considerável no mercado profissional. E segundo estudos, o belo faz diferença até na hora de ganhar uma promoção. Ou seja, beleza de acordo com muitos especialistas, põe mesa sim senhor! Prova disso é que o assunto já recebeu a atenção de muitos pesquisadores em todo o mundo. E os resultados são surpreendentes.
O economista americano Daniel Hamermesh, autor do livro "A Beleza Remunera", traz estudos e dados comprovando o poder da aparência física na carreira, calculou, por meio de pesquisas, que um trabalhador com boa aparência recebe, ao longo da vida, 239 mil dólares a mais que um funcionário considerado feio com o mesmo grau de instrução e inteligência. Pelos estudos, cerca de 7% dos trabalhadores norte-americanos considerados mais feios ganham até 17% menos do que os 33% considerados mais bonitos. E no Brasil a tendência é praticamente a mesma. Em 2006, o estudo "O Impacto socioeconômico da beleza", feito por pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF) constatou que pessoas "bem cuidadas" conseguem obter uma remuneração 5% a 10% superior àquelas consideradas de "aparência simples".
Adriana Gontijo não tem dúvida. Formada em engenharia química, ela nunca deu muita importância para a própria imagem. "Achava que só com a minha competência iria conseguir promoções no meu trabalho. Mas o tempo ia passando e isso não ocorria", lembra. Ela então procurou um coaching (profissional que cuida da aparência pessoal voltada para o meio corporativo) de carreira em 2010 e deu uma reviravolta na vida. "cortei o cabelo, emagreci 10 quilos, fiz curso de automaquiagem, passei a fazer exercícios físicos, a cuidar da minha alimentação e do meu visual", diz, revelando que no inicio do ano passado, foi promovida e hoje tem oportunidade de receber uma nova promoção. "A aparência conta muito. Fiquei mais confiante e segura", diz. De acordo com a coaching de carreira e consultora de imagem Carla Couto, quando se trata de mercado de trabalho, "Não é o belo e o feio, mas o adequado e o inadequado".
Ela diz que é mais do que um padrão estético é uma adequação da pessoa ao meio em que ela trabalha ou pretende trabalhar. "Há estudos que dizem que em dois segundos são tempo suficiente para uma pessoa formar sua imagem. Um candidato que chega a uma entrevista de emprego e diz "bom dia" já criou sua imagem no subconsciente de quem recruta. Nesse pequeno espaço de tempo, há algo de subliminar, pois a pessoa bate o olho e cria uma linha de raciocínio sobre o interessado na vaga, se ele se cuida,se dormiu bem e outras características"
Carla compara essa contexto a uma situação muito comum no dia a dia: "É o mesmo que você ir a uma loja mal vestida e ser mal atendida". Ali, a aparência pode apontar poucas condições de consumir. No caso do competitivo mercado de trabalho, segundo Carla, uma má aparência pode simbolizar, para muitos, falta de organização, de postura e até de credibilidade. (Texto de Luciane Evans, jornal Estado de Minas)